segunda-feira, 13 de maio de 2013

Chalita, o “católico praticante”, fala sobre aborto, “casamento” gay e excomunhão.


Já falamos muito neste espaço sobre a atuação política e religiosa do deputado federal Gabriel Chalita, do PMDB.
Quando ele apoiou a então candidata do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República, Dilma Rousseff, protestamos veementemente – e não fomos os únicos! -, já que os princípios defendidos pelo PT de Dilma eram (e ainda são) totalmente incompatíveis com o “catolicismo praticante” que Chalita sempre assumiu para si.
Recentemente, questionado sobre o reconhecimento civil das uniões homossexuais – ao qual a Igreja pede a seus fiéis que se oponham “de modo claro e incisivo” –, Chalita deu sua aprovação: “Sou favorável a isso. Acho que isso já está decidido, discutido”.
Agora, o deputado da base aliada do governo vem a público para negar acusações de enriquecimento ilícito. Chalita concedeu uma entrevista ao programa Poder e Política, da Folha, e teve tempo também para falar de suas posições religiosas. Ele novamente defendeu ser “católico praticante”, disse que é contrário ao aborto – menos no caso de estupro: “O caso do estupro pode” –, não mudou sua opinião quanto à união civil gay – “você não pode ter nenhum tipo de preconceito a uma relação estável entre duas pessoas, sejam elas do mesmo sexo ou de sexos diferentes” – e criticou a excomunhão do padre Beto, de Bauru: “Eu acho que ele tem o direito de expressar…”
Disponibilizamos abaixo trecho da entrevista. As perguntas do jornalista Fernando Rodrigues vão em negrito; as respostas de Chalita, em caracteres normais.
*
Gabriel Chalita concede entrevista ao programa "Poder e Política". Foto: Sergio Lima/Folhapress
Gabriel Chalita concede entrevista ao programa “Poder e Política”. Foto: Sergio Lima/Folhapress
O sr. é católico?
Eu sou católico. Sou um católico praticante, não escondo isso. Tenho muito respeito pelas outras religiões. Na campanha, eu fui convidado por pastores, por exemplo, para discutir política com líderes evangélicos. Eu acho que isso está correto. Um padre te convidar para um debate com candidatos… O cardeal [dom Odilo Scherer] fez isso em São Paulo. Convidou os candidatos para debaterem com padres. Aí está correto. Agora, você ir num culto religioso, numa missa, num culto, num elemento e transformar aquilo em um ato político, eu acho absolutamente incorreto.
Agora, a Igreja querer ouvir propostas, faz parte. Como ir numa faculdade. Se eu sou convidado para ir numa faculdade para dar uma palestra de direito penal, eu vou falar de direito penal. Se me convidarem e convidarem outros candidatos para debater [sobre] a cidade, eu vou para debater [sobre] a cidade.
E os temas que são relevantes para líderes religiosos e que, muitas vezes, são transplantados para o debate político? Temas como aborto, casamento gay, descriminalização do uso de drogas, entre outros, que têm sido usados por vários candidatos nas campanhas. Essas discussões são próprias para as campanhas políticas?
Eu acho que elas diminuem o debate político. São ruins para o debate político. É claro que as pessoas saberem o que os candidatos pensam faz parte do processo. Agora, você transformar uma eleição presidencial em um debate sobre aborto…? Primeiro que é assim: não é o presidente que define se terá aborto ou não. Quem define é o Congresso. Eu sou contra o aborto, já disse isso várias vezes, por razões as quais eu já expliquei. Mas, às vezes, você tem um reducionismo disso.
Sobre flexibilizar ou ampliar a lei do aborto atual. O sr. é a favor ou contra?
Eu sou contra. Eu acho que a lei…
Tem que ficar como está? Uma mulher não deve ser autorizada a fazer um aborto até a 12ª semana de gravidez?
Não deveria ser permitido por uma questão que, para mim, é constitucional, que é o amplo direito à vida. Ali tem vida. Onde tem vida, você tem que proteger o direito à vida.
Mas no caso do estupro, pode?
O caso do estupro pode. Ela não é obrigada a fazer. É uma decisão dela. Você tem uma diminuição disso porque aquilo foi praticado por meio de um crime.
Mas aí, então, pela mesma concepção, vai se tirar uma vida do mesmo jeito…
É. Pela mesma concepção, você pode matar alguém como legítima defesa. Você também está tirando uma vida, mas você tem uma previsão legal que te garanta que faça isso, porque você seria morto, então, para não ser morto, você tem o direito de defender a sua vida.
Mas, nesse caso, não há uma vida em risco.
Você está defendendo uma vida da mulher. Você não sabe quem, enfim, a estuprou. Então, já houve uma construção legal nesse sentido. Eu não acho que a questão -e nem sinto que líderes religiosos defendam dessa forma- não é prender a mulher que fez o aborto, acabar com a vida da mulher que fez o aborto. A questão é mostrar que isso, do ponto de vista penal, vai contra, vai de encontro a um mandamento constitucional que é o direito à vida.
Casamento gay. Deve haver alguma ampliação no que já existe a respeito de casamento gay no Brasil na legislação?
Eu acho que o Supremo decidiu isso de uma forma muito correta, mostrando que você não pode ter nenhum tipo de preconceito a uma relação estável entre duas pessoas, sejam elas do mesmo sexo ou de sexos diferentes. Agora, no caso das igrejas, eu acho que cada igreja tem que decidir o casamento que ela faz. Agora, contra todo tipo de preconceito, eu acho que é lamentável uma sociedade que tenha quaisquer sentimentos de homofobia, que destrua as pessoas porque elas têm uma orientação sexual diferente ou porque elas têm uma história de vida diferente.
Já que o sr. está falando sobre isso, teve o caso desse padre -padre Beto, de Bauru- que foi excomungado por ter manifestado apoio ao relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo. O sr. concordou?
A Igreja está dizendo que ele não foi excomungado por causa disso. Está dizendo que ele foi excomungado porque ele desobedeceu bispo. Eu, na verdade, por causa da defesa dele da questão das pessoas poderem ser felizes, eu não vejo com bons olhos isso. Eu acho que ele tem o direito de expressar…
O sr. não vê com bons olhos…
…A excomunhão. É. Padre Cícero foi excomungado também, não é?
O sr. acha, então, que não foi a melhor atitude da Igreja?
Eu não quero criticar [a Igreja]. Eu acho que a Igreja erra e acerta, mas…
Nesse caso?
Eu vi, inclusive, a demonstração do povo de Bauru pelo grande padre que ele é, pela forma carinhosa como ele trata as pessoas, pela liderança dele. Agora, eu não tenho detalhes do motivo da excomunhão, como é que ela foi desenvolvida. Eu também não quero ser leviano com relação a isso. Mas, quando eu vi a primeira colocação na imprensa, de que ele foi excomungado por causa disso, eu achei incorreta a excomunhão. É a minha opinião de leigo ali vendo. Eu acho que as pessoas precisam ser acolhidas, não excomungadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário