segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Reflexão: Está em Tudo



Está em Tudo

Vi Deus ontem no ônibus. Ele entrou descalço, estava vendendo bala. Achei estranho Deus aparecer assim, nem um chinelo ele tinha. Estava meio sujo, e o cabelo então - nem se fala.
Agora veja, logo Deus, que semana passada vi cantando num show, todo aprumado. Que anteontem estava dançando com saia rodada e mês passado estava lá na cadeira da universidade, sentado.
Deus era preto mês passado e estava cursando psicologia. Achei afrontoso, típico de Deus. Hoje mesmo me apareceu no espelho, quando eu chorava pela manhã. E o que acho mais gozado, veja bem, é que Deus - meio sem forma, meio sem contorno - cabe em mim. Cabe no outro e ainda cabe em um áudio de 3 minutos que uma amiga de outro estado me mandou.
Ele cabe numa sinfonia de orquestra. Numa sanfona bem afinada. E nos berros da minha mãe. Eu vejo Deus em tudo, e se não vejo, é porque não enxergo. Se não ouço, é porque não tenho ouvido. Se não sinto, é porque morri.
Mas acho até que consigo ver Deus depois de morto, até depois de vivo, até depois que ele desceu do ônibus sem vender nenhuma bala e me deu um sorriso.
Queria entender essa coisa do espírito. De ser muitos, de ser um, de ser dois e ninguém. De transcender o tempo. Vendedor de bala, meu espelho e mulher com saia rodada. E de todos esses devaneios, que escrevi enquanto o ônibus Deus dirigia.
Pensa só que louco seria. Ah, bixo, que revolução se daria se, por surto, ou poesia, a gente finalmente entendesse que Deus mora em mim - e também mora no outro

Nenhum comentário:

Postar um comentário